Deputado proponente disse que o encontro foi um espaço não só de reflexão, mas de ação e construção conjunta de ideias para futuros projetos
A Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales) sediou, nesta sexta-feira (04), uma Sessão Especial alusiva ao Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo, celebrado em 02 de abril. A sessão também faz parte das atividades do Abril Azul, mês de conscientização e valorização da pessoa com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Proposto pelo deputado Fábio Duarte (Rede), o evento aconteceu no Plenário Dirceu Cardoso e contou com presença de representantes de entidades que trabalham com a causa, além de autoridades políticas e especialistas sobre a temática.
A presidente da Associação Amigos da Pessoa com Autismo (Amaes), Pollyana Paraguassu, contou sobre a história do diagnóstico do filho, que já soma quase duas décadas desde o laudo, e disse que a mobilização das famílias neste período conta com conquistas que devem ser comemoradas. “Há 20 anos, não tinha isso aqui que estamos fazendo aqui hoje. Por que não comemorar a semana, o mês? São momentos onde as atenções se voltam e nós conseguimos mostrar toda a dificuldade da nossa luta diária”, explica.
Paraguassu falou sobre o lema deste ano da ‘Campanha Abril Azul’ que é ‘Empatia’ e também destacou a necessidade de o poder público contribuir para melhorar a qualidade de vida das famílias dos autistas. “Nós queremos política de Estado. Nós não queremos política de governo. Eu falo que eu não quero mais andar com o pires na mão. Eu quero andar com o prato e com a bandeja (…). Nós temos leis robustas, que nos garantem direitos, mas elas não são fiscalizadas e efetivadas (…) Vamos resolver o problema de todo mundo? Não, mas nós vamos tornar a trajetória mais leve para muitos. E que a pedra que eu pisei no passado, no amanhã, outra mãe não pise. E que se pisar, possa doer menos do que doeu pra mim”, enfatizou.
Palestra sobre “Neurodiversidade e Inclusão”
A psicóloga Danieli Simoni, especialista em gestão em saúde e prevenção às violências (Ufes) ministrou palestra sobre o tema “Neurodiversidade e Inclusão”. Ela convidou aos presentes a responder: Por que eu estou aqui? “Pode parecer uma pergunta óbvia, mas se assim fosse, nós não precisávamos estar aqui, não iríamos precisar de um momento especial numa agenda de uma Casa de Leis (…) Então não é óbvio que existem diferenças. E por isso, faço aqui essa fala de reafirmação da importância da gente discutir sobre diversidade”, frisou.
A palestrante destacou como uma das principais preocupação o isolamento das pessoas com TEA. “A questão do isolamento, que tenho observado na minha prática, enquanto trabalhadora do SUS e também do sistema privado, é que o sofrimento está diretamente ligado à exclusão (…)”, explicou Daniele que também chamou a atenção para a falta de unidades de Caps (Centro de Atenção Psicossocial) infantis e juvenis.
Já a influenciadora digital Maanuh Scotá, que tem filho com TEA falou das dificuldades que as mães atípicas passam. “A verdade é que muitas de nós estamos ansiosas, deprimidas e sozinhas. Estudos mostram que cerca de 80% das mães de crianças autistas enfrentam abandono por parte dos parceiros. A maternidade atípica, que já é solitária, acaba virando também uma maternidade invisível. Nós perdemos renda, perdemos nossos empregos”, lamentou.
Maanuh Scotá sugeriu a criação de grupos de apoio psicológico gratuitos e contínuos, além de programas de capacitação e empregabilidade para mães atípicas. Outra sugestão é a implementação de ações específicas para combater o abandono parental “que é uma forma de violência invisível”, apontou.
Luta contínua
Depois de abrir a plenária para perguntas e ouvir relatos de pais, principalmente sobre a falta de neuropediatras para atendimento na rede pública, o deputado Duarte falou do compromisso com a continuidade do diálogo e do trabalho conjunto.
“Sabemos que as dificuldades enfrentadas por pessoas autistas e seus familiares ainda são muitas como a falta de diagnóstico precoce, dificuldades no acesso ao tratamento adequado, desafios na educação inclusiva, na mobilidade e na inserção no mercado de trabalho. É por isso que esta sessão foi um espaço não só de reflexão, mas de ação e construção conjunta de ideias para futuros projetos. Precisamos fortalecer a rede de apoio, ampliar o acesso a serviços especializados e garantir que todas as pessoas autistas tenham autonomia e qualidade de vida (…) E esse trabalho não se resolve com um dia no calendário, mas deve ser contínuo, firme e efetivo”, garantiu.
Sobre a data
Quanto ao Dia Mundial de Conscientização do Autismo, a data foi criada em 2007 pela Organização das Nações Unidas (ONU), para aumentar a conscientização global sobre o transtorno do espectro autista, reduzir o preconceito e incentivar políticas públicas que melhorem a qualidade de vida das pessoas autistas e suas famílias.
